Primal Scream @ HSBC Brasil, 24/09/2011

Primal Scream @ HSBC Hall O inevitável clima revivalista preparado para rever os ídolos do Primal Scream em turne apresentando ao vivo sua obra de maior destaque, o disco Screamadélica, que havia completado exatos 20 anos de lançamento no dia anterior, no HSBC em São Paulo era proporcional a expectativa (e a faixa etária) do público presente. Boa parte dos fãs alí presenciaram a avalanche que o album de 1991 causou na época, uma espécie de resposta britânica (ao lado do shoegaze e o britpop) ao furacão grunge que assolava o rock mundial a partir de Seattle (cujo magnum opus Nevermind também comemora as bodas de platina na mesma semana). Mas enquanto o noroste americano unia metaleiros e punks sob a mesma camisa de flanela xadrez, o Primal Scream liquidificou a pura psicodelia dos anos 60, os tempos aureos dos Rolling Stones e toda a efervescência da Detroit de MC5, Motown e Stevie Wonder com elementos (e aditivos) até então limitados às pistas de danças e raves, dando vazão uma obra ímpar, viciante e sem dúvida uma das criações mais influentes dos últimos 20 anos do lado de lá do Atlântico.
Primal Scream @ HSBC Hall
Bobby Gillespie

"Vocês estão prontos para testemunhar?", questiona Bobby Gillespie, encarnando o mestre de cerimônias responsável pelo ritual daquela noite, ainda sem muita emoção, numa entrada que parecia protocolar, ensaiada a exaustão. Mas bastaram os primeiros refrões do hit "Movin' On Up" cantados pelos fãs para a banda perder a rigidez e ganhar o público. Num cenário sem firulas, o único efeito eram as imagens projetadas na banda e na tela gigantesca que abrangia todo o fundo do palco.

Samples e sirenes anunciam a batida contagiante de "Slip Inside This House", o primeiro embate da psicodelia com o eletrônico. Bobby então entrega a direção do palco a Mary Pierce, que impressiona na performance e na levada soul dos vocais praticamente impecáveis de "Don't Fight It, Feel It", originalmente cantada por Denise Johnson no album de estúdio.


Na sequencia Bobby retoma a condução dos vocais e, de olhos fechados e com muita emoção, canta a felicidade de todos ao som de "Damaged". A balada "I'm Comin' Down" seguem o ritmo introspectivo do momento. Sob novas sirenes e mais colagens sonoras, Bobby deixa o palco para o ex-Stone Roses Mani no baixo, os guitarristas Andrew Innes e Barrie Cadogan, além de Darrin Mooney na percussão comandarem a instrumental "Inner Flight".


Primal Scream @ HSBC Hall
Bobby Gillespie
Mr. Gillespie volta ao palco pronto para embarcar na viagem ácida de "Higher Than The Sun", que ganha contornos épicos com direito a grandiosos solos de sax, guitarras e baixo da sinfonia dub. A orgia sonora de "Loaded" na sequencia é um dos pontos altos da noite, incrementada ainda mais com as projeções de "The Wild Angels" e um jovem Bobby na tela ao fundo. Impossível passar ileso pelo groove irresistível, sem ao menos engrossar o coro de 'uh-uhs' remetendo a "Sympathy for the Devil" ou repetir o que Heavenly Blues declamava em 1966.

Primal Scream @ HSBC Hall
Andrew Innes
Uma nova explosão de cores e ao som de orgão e vocal gospel, o show-tributo encaminha para seu espetáculo final: Bobby convida todos para a catártica "Come Together", mais uma com o refrão cantado em uníssono e acompanhado de palmas. A aquela altura, você compreende que o impacto do disco consegue ser ainda mais devastador ao vivo.

E quando se pensava que a banda estivesse cansada após a execussão do album clássico, eles retornam para um bis com as nervosas Country Girl, Jailbird e Rocks, composições posteriores ao Screamadelica, incrivelmente detonadas em ritmo ainda mais eletrizante e enfurecido. Nem parecia que o grupo já havia tocado por quase uma hora e meia.

Numa noite que foi mais do que uma simples celebração nostalgica, o Primal Scream demonstrou que além de uma obra prima, o Screamadelica continua soando como novo, intacto e de inegável importância ainda hoje. Um divisor de águas que certamente ainda será trilha sonora para as novas gerações.


  • Outras fotos no flickr de Alessandra Luvisotto

Faust @ CCSP, 16/09/2011

Faust
Jean-Hervé Péron
Uma aula de música, teatro, poesia, um happening? Difícil de se descrever, mas foi mais ou menos isso que o seminal grupo alemão Faust, uma das primeiras bandas que receberam o rótulo de Krautrock na década de 70, realizou no ótimo Centro Cultural São Paulo (um dos melhores locais para shows na capital) em uma apresentação gratuita no último dia 16.

Em pouco mais de uma hora, viu se desde encenações poéticas protagonizadas por Jean-Hervé Péron (também baixista e percussionista), solos de baterias e projeções em um telão posicionado ao lado do palco, além de atos ainda mais inusitados como pintura de uma tela por Geraldine Swayne (que também canta, toca teclados e guitarra) e o som da lixadeira do baterista Werner "Zappi" Diermaier em uma chapa de metal contracenando com a guitarra de James Johnston.

Faust
Jean-Hervé e Geraldine
Os mais atentos fãs de Sonic Youth de ambientes mais experimentais pós-Washing Machine ou do Radiohead da fase Kid A, ou de tantas outras que abusam do drone, psicodelia e colagens eletrônicas certamente reconheceream aquela sonoridade peculiar. Fechando o multi-espetáculo, um das composições mais conhecidas da banda, o clássico noise "Krautrock", do album de 1974, Faust IV.

The Concept @ Urban Lounge, 10/09/2011

Saindo na correria logo depois da belíssima estréia da Medialunas, (graças ao nosso grande camarada de bons sons João) conseguimos chegar a tempo da outra festa do sábado, onde Magic Crayon, Top Surprise e os "veteranos" do The Concept se apresentariam na já tradicional noite Foggy Glasses que acontecia no Urban Lounge.

the concept @ urban lounge
The Concept
Chegamos já no final da festa, mas ainda a tempo de acompanhar o último show da noite: The Concept. Seria a primeira vez que veriamos a banda e tudo o que conheciamos era a fama do guitar rock que sobreviveu os anos 90, além é claro do nome que sempre fará lembrar sons memoráveis (ainda mais para um fã de Teenage Fanclub.) E a primeira impressão ao vê-los ao vivo foi das melhores possíveis.


O quarteto da Zona Leste paulistana, que retomou os trabalhos em novembro do ano passado (em uma outra edição da mesma Foggy Glasses) após meia década de recesso, comandou uma verdadeira celebração junto aos fãs na frente do palco.


the concept @ urban lounge
The Concept
Liderados pelo vocalista e guitar hero Rob Son, abusando - no bom sentido - de seus solos distorcidos (conforme nosso amigo João havia previamente alertado), enfileiraram canções que lembravam as pepitas do rock alternativo britânico dos idos de 1990, da qual a própria música do então jovem TFC fez parte. Era possível ouvir desde ecos de shoegaze e psicodelia até melodias assoviáveis do indie pop - como é o caso de "Reconstruction" (do video acima, embora pouco se possa ver na escuridão), música do single de mesmo nome lançado recentemente. De bônus, uma versão guitarrística para "Ceremony", música do Joy Division de Ian Curtis, famosa na discografia do New Order.

Em suma, um belo show, que sem dúvida valeu a pena ter chegado de última hora para conferir. De quebra, o grupo ainda conquistou pelo menos mais um par de fãs, que já estão na torcida por mais shows da banda em breve.


  • Mais fotos no flickr de Alessandra Luvisotto

Medialunas e Pélico @ Casa Dissenso, 10/09/2011

Quando há quase três meses, a Superguidis pegou todo mundo de surpresa e via twitter anunciou o fim das atividades, os fãs do indie rock por todo país sentiram que haviam perdido um dos nomes mais criativos da última década do rock nacional. Pouco tempo depois, foi a vez dos Ecos Falsos, outra banda de peso, sinônimo de boa música e diversão certa nos palcos, noticiar o fim prematuro da banda. 2011 estava parecendo um ano cruel para o rock independente no país...

Entretanto, apenas algumas horas depois da derradeira apresentação dos Falsos na capital paulista (recheado de muita emoção, segundo relatos de quem esteve na Livraria Cultura do Shopping Market Place naquela tarde), uma nova promessa do indie nacional começava a dar seus primeiros passos. Quem esteve na prezada salinha da Casa Dissenso (que infelizmente também está perto de encerrar suas atividades) na noite do último sábado teve a oportunidade de ver e ouvir de perto a estréia ao vivo do duo/casal Medialunas, formado pelo ex-Superguidis Andrio Maquenzi e a musicaholic Liege Milk (Loomer, Hangovers, entre outras), vindos especialmente de Porto Alegre para a festa promovida pelos sites Scream&Yell e Urbanaque.

Pélico @ Casa Dissenso
Pélico
Já passava da meia-noite quando Pélico deu início aos trabalhos. Na companhia de apenas sanfona e baixo, o bardo e seu violão viram a salinha quase lotada para ouvir seu romantismo rascante. Mesmo com a roupagem acústica do trio e a levada intimista (ainda que ácida) da maior parte de seu repertório, composto principalmente das composições de Que Isso Fique Entre Nós, seu disco mais recente, não pareciam suficientes para conter Pélico em seu banquinho, que arriscava saltos e malabarismos. Um show que começou morno chegou ao fim conquistando boa parte da platéia que foi para vê-lo e até mesmo alguns dos mais desavisados.

Terminado o show de abertura, o duo gaúcho invadiu palco e em poucos minutos já estavam a postos com sua aparelhagem mínima de bateria, guitarra. Lutando contra um indefensável nervosismo de debutantes, Andrio e sua guitarra trataram de dar o pontapé inicial com a já favorita "Humming", na companhia da percussão compenetrada de Liege. Na sequência vieram os outros petardos conhecidos: "Colorful", "Chunby" e "Slo-Mo Dancer" ao vivo ganharam ainda mais em crueza e energia. Aliás, o contraste do minimalismo de formação e instrumentos e a capacidade de soar tão (docemente) barulhento realmente impressiona.


Medialunas @ Casa Dissenso
Medialunas
Dali em diante, o setlist seria somente de inéditas. A matadora "No Te Va Gustar" (vídeo acima) mostra a dupla se alternando nos vocais e cantando na língua de origem do nome da banda. Para o bem e para o mal, parece que ainda vai levar um tempo para ouvir Andrio cantando em português sem recordar da Superguidis, ainda mais com "Memorabilia" (e sua guitarra a la My Bloody Valentine), cuja letra faz lembrar e muito da sua antiga banda.

Medialunas @ Casa Dissenso
Andrio Maquenzi (Medialunas)

"Frames", nas palavras do próprio guitarrista, a música que eles roubaram do Superchunk, é mais uma pérola beirando o radiofônico, enquanto "Chester, Cheese, Onion", o "sabor de pizza favorito" do par, é uma visita ao grunge misturado a outras viagens melódicas. Para encerrar, atendendo aos pedidos (e ameaças) por bis, "How Near How Far", uma das preciosidades do Trail of Dead, ganhou sua versão minimal como que num truque de mágica da dupla.


Medialunas @ Casa Dissenso
Liege Milk (Medialunas)
De saldo final, um ótimo show da banda, que atendeu as expectativas daqueles que aguardavam por vê-los ao vivo. E foram apenas os primeiros passos para um casal que deixa claro que tem um grande caminho a trilhar, com a cabeça cheia de música, idéias e planos pela frente. Quem estava desanimado pelas perdas de 2011, já é hora de começar a abrir um sorriso no rosto.


  • Mais fotos de Pélico e Medialunas no flickr de Alessandra Luvisotto
  • Outros videos da Medialunas ao vivo no canal do youtube.

Medialunas faz show de estréia neste sábado em São Paulo

De um lado, as viagens em distorções da Loomer com o aditivo energético da Hangovers. Do outro, a inconfundível juvenília das guitarras da sempre lembrada Superguidis. Some ainda experiências diárias de um casal apaixonado por música dividindo o quarto com uma bolinha de pelos chamada Yoshimi. O fruto dessa combinação é um dos segredos mais bem guardados de Porto Alegre: o duo Medialunas, formado pela bateria de Liege Milk (Loomer, Hangovers, entre outras) e guitarra de Andrio Maquenzi (Superguidis).

Medialunas (foto por Gabriel Not)
Surgidos timidamente no final de maio com um simples par de faixas postadas Soundcloud, a banda chamou atenção não só pela formação inusitada mas pela qualidade das composições, que apesar de contar apenas com bateria e guitarra, produziu um indie rock de primeira, de uma melodia certeira, quase radiofônica e cuidadosos vocais cantando em inglês. É possível ouvir ecos do que de melhor aconteceu no rock dos anos 90 de ambos os lados do Atlântico, do alternativo americano (qualquer relação com Yo La Tengo, além do nome hispânico, não é coincidência) ao shoegaze britânico (não à toa são fãs confessos de Swervedriver).


O duo ainda disponibilizou outras duas novas faixas de lá pra cá (também disponíveis no perfil da banda na TramaVirtual) - mais duas pérolas que só fizeram com que as apostas na dupla aumentasse ainda mais.


E eis que nesse sábado a Casa Dissenso em São Paulo será o palco da primeira apresentação da banda, em festa promovida pelos sites Scream&Yell e Urbanaque.

O anfitrião da noite será Pélico, que apresenta o também bastante elogiado "Que Isso Fique Entre Nós", album lançado nesse ano.

Portanto não esqueça: é neste sábado (10/9), na Casa Dissenso (Rua Pinheiros, 747 - Pinheiros), a partir das 21h. Os ingressos custarão R$ 15 (enviando o nome para lista@urbanaque.com.br) ou R$ 20 na porta.

"Araguari, o que foi que aconteceu?", o documentário sobre o primeiro EP de Jair Naves

Araguari é um municipio com quase 110 mil habitantes, ao norte do triângulo mineiro, talvez mais conhecida nacionalmente por ter sido o palco do "maior erro judiciário já cometido no país", episódio que ganhou notoriedade nas telas de cinema num drama inesquecível de Luís Sérgio Person, 'O Caso dos Irmãos Naves'.

Mas Araguari também foi lembrada recentemente quando deu nome ao brilhante EP de estréia de Jair Naves em carreira solo, no começo de 2010. Esta semana, seu primeiro trabalho foi agraciado com um ótimo documentário explicando o porquê da escolha pelo nome da cidade mineira.


O video de aproximadamente 12 minutos conta um pouco da relação de Jair com a cidade, suas lembranças de infância e toda importância dela em sua vida. O curta ainda reproduz relatos de várias pessoas sobre o eternamente lembrado Ludovic, épica primeira banda de Jair, e a transformação de seu som no que é hoje, sem perder a original franqueza e visceralidade. Por fim, são exibidas cenas de como foi o retorno à cidade um ano após do lançamento do disco, num show repleto de emoção.

E sim, como você já deve ter se perguntado, Jair descobriu há não muito tempo que existe sim um grau de parentesco ainda que distante (eram primos da avó do cantor) com os Irmãos Naves do infausto acontecido.

Vale lembrar que tanto Araguari quanto o single de Um passo por vez, lançado este ano, encontra-se disponível para download gratuito no perfil de Jair Naves na TramaVirtual.