Inverness, Single Parents e Loomer @ Casa Dissenso, 26/11/2010

Finalizando uma semana de maratona de shows incríveis como poucas vezes a capital paulista viu (começando com Mummies e El Mató a un Policía Motorizado, passando pelo Planeta Terra Festival e Paul McCartney e completando com um inacreditável Hallogallo e a lenda chamada Buzzcocks (mais sobre o show aqui)), era noite de celebração de guitarras na sempre agradável Casa Dissenso. Os anfitriões Inverness e Single Parents receberiam a aguardada visita dos gaúchos da Loomer, destaque não apenas do rock no RS mas também um das melhores revelações da nova cena noise do país.

Contratempos do deslocamento Campinas-Sampa a parte, chegamos na metade do show da primeira banda, Inverness. Apresentando algumas das canções do recentemente lançado Somewhere I can hear my heart beating, segundo album da banda, o então trio teve que se desdobrar para compensar a ausência da outra guitarra de Mateus, além do sintetizador, falta sentida principalmente nas composições mais elaboradas. Mesmo assim, deram conta do recado e ainda apostaram em uma mini jam em "To Finally Sleep" na base do bateria-baixo-guitarra e distorção.


Na sequência, era a vez do power-trio (esse sem nenhum desfalque) do Single Parents. Com letras em inglês e um estilo fortemente influenciado pelo indie guitar noventista (parece até que se pode ouvir pitadas de Sonic Youth, Superchunk ou as quebras de Pixies e Polvo em alguns trechos mais complexos), a banda mostrou as músicas do EP Could You Explain?, lançado no começo deste ano. O show que começou morno (talvez em razão de boa parte do público insistir em continuar sentado) foi esquentando com o tempo e terminou bem animado com "Last Conversation". Houve tempo ainda para uma cover de "Careful", do Sebadoh, outra grata influência da banda.


A tarefa de fechar a noite ficou por conta do show mais esperado da noite, Loomer. Com 2 EPs nas costas, Mind Drops, de 2009, e Coward Soul, lançado há dois meses em conjunto por 3 selos, Senhor F, Midsummer Madness e Sinewave, a banda retorna a São Paulo depois de exatamente um ano, quando participou no II Sinewave Festival.

E a parede sonora construída no diminuto palco da Dissenso justificou logo de cara a fama do quarteto. Enquanto Richard em uma das guitarras e Guilherme na bateria  tratam de conduzir a base, Stefano, munido de outra guitarra e um cartel invejável de pedais de efeitos, se alterna nos vocais quase inaudíveis com Liege, que ainda cuida de um baixo estridente e seu bom e velho Bigmuff.


Mais do que fiéis escudeiros de Kevin Shields e seu My Bloody Valentine e o Dinosaur Jr. de J. Mascis, a Loomer ainda trata de fazer jus as influência do rock independente nacional dos anos 90 (que se percebe logo na camiseta de Liege com a escrita "Killing Chainsaw" ou na arrepiante versão de "Feel Like I don't know what I'm doing" do lendário grupo carioca Second Come). A melodia e distorção resultantes desse turbilhão são o que de melhor se produz no país para os fãs do shoegaze.


No palco, a timidez com que os membros da banda encaram o público contrasta com a entrega do grupo ao apresentar suas músicas. Além de tocar a maioria das faixas dos dois EPs, também experimentaram algumas novas canções (ainda sem nome e que, conforme já alertaram, provavelmente passarão por mudanças no futuro).

  • Baixe os 2 albuns do Inverness no perfil da banda na TramaVirtual
  • Baixe o EP Could You Explain? do Single Parents no perfil da banda na Tramavirtual
  • Baixe os 2 EPs da Loomer no site da Sinewave

Buzzcocks @ Clash Club, 25/11/2010

Barulho, suor e cerveja. Esses três foram talvez os principais ingredientes que se juntaram a boa e velha escola de punk rock do Buzzcocks da noite de quinta passada (dia 25) no Clash em São Paulo. Se o barulho em si deixava a desejar em certos momentos (obviamente não por culpa dos grupos, mas em razão da aparelhagem do local), banda e público trataram de dar uma aula de quase uma hora e meia ensinando como se festeja o rock'n'roll.


Chegamos pouco antes do término do show dos californianos do Adolescents, outro nome da velha guarda do punk rock (também fundada no final dos anos 70), que se apresentava pela primeira vez no Brasil e, a aquela altura, incendiava a casa que já começava a lotar.


Terminado o primeiro show, era hora da longa espera pela principal atração da noite. Diferente das outras 3 ocasiões em que a banda visitou o país, dessa vez a turne Another Bites se concentraria nos primeiros lançamentos da banda, de audição obrigatória, Another Music in a Different Kitchen, Love Bites e a coletânea Singles Going Steady, além do seminal EP, Spiral Scratch, o que acentuava ainda mais o caráter histórico da apresentação.


Depois de mais de uma hora no aguardo, Pete Shelley e Steve Diggle, acompanhados de baixista e baterista convidados, finalmente deram as caras. Logo de começo, o medley "Boredom"/"Fast Cars" deu o tom do que seria aquela noite. A cada clássico, um show a parte no animado pogo a frente do palco. E os clássicos foram muitos, é claro: tiros nervosos de "Autonomy", "Whatever Happened to...?" (video abaixo), "Noise Annoys", "Breakdown", "What do I get?", a baladinha punk de "Love is Lies", a batida incrível de "Moving Away from the Pulsebeat", entre tantas outras. Tão impressionante quanto o set de pérolas é a vitalidade com que os veteranos guitarristas demonstram no palco. Enquanto Shelley se concentra em tomar as rédeas do espetáculo, o elétrico Diggle parece não conseguir ficar parado, espancando seu instrumento e pulando como se estivessemos em 79. Finalizando a primeira parte da apresentação, "I Believe" é cantada em coro pelo público.


Poucos minutos depois, as palmas e gritos por bis são atendidos e o quarteto volta para fechar com "Harmony in My Head", "Oh Shit" e os dois maiores clássicos do grupo, "Ever Falling in Love" e "Orgasm Addict" para o delírio da roda punk.


  • outras fotos no Flickr, por Alessandra Luvisotto