Entrevista: INI

Passados nove anos desde a realização do Circadélica, festival que não apenas colocou Sorocaba definitivamente no mapa da música independente mas também caracterizou-se um divisor de águas no cenário nacional da época, a cidade volta a ser foco do que se produz de mais interessante culturalmente no interior paulista.

Depois de anos de tímida movimentação, a Manchester Paulista hoje conta com uma nova safra de bandas que começam a despontar em nível nacional (ao lado de veteranos como Wry e The Biggs) uma estrutura com novos locais abertos a música independente (o Asteroid Bar por exemplo é um deles) e novos festivais, como o Usina Festival, idealizado pelo The Name, outra banda de enorme destaque da cidade, e o Grito Rock, com duas edições de sucesso realizadas na cidade, além da organização dessa força colaborativa através da formação de coletivos. Dentro desse novo contexto, o INI, tanto a banda quanto os integrantes em si, é um dos nomes que vem desenvolvendo um trabalho de grande importância.

Tive a oportunidade de realizar um rápido bate-papo com Ferraz, vocal e guitarra do INI, que além de comentar sobre a origem da banda, a composição e a tour de divulgação do "A Caixa do Macaco", último lançamento da banda, destacou também os projetos que estão se desenvolvendo na cidade, como o ousado Guerrilha Gerador.


RockSafari: Primeiramente, como foi o nascimento do INI? Como vocês se conheceram, de onde surgiu a idéia de formar uma banda? E, por curiosidade, de onde vem o nome INI?

Ferraz: O INI nasceu em 2006, no lançamento do primeiro disco, quando o Rike (guitarra), o Pêu (baixo) e o Heraldo (bateria) começaram a reestruturar a banda-embrião que existia desde 1998 e chamava Initieites. INI é Initieites mutilado (risos). Nos conhecemos por acidente. O Pêu abriu a porta do carro no semáforo e derrubou um motoqueiro. No caso, eu (risos).

As composições do "A Caixa do Macaco", album lançado no início deste ano (e disponibilizado para download gratuito através do myspace da banda), prezam por fugir do habitual, do costumeiro, com uma proposta focada na intensidade e uma linguagem impactante, visceral e as vezes enigmática até certo ponto. Como funciona o processo de criação? O que o grupo tem como maiores influências?

Compusemos de todos os jeitos. A única constante do INI sempre foi intensidade. Esse disco não soa habitual porque não nasceu de forma habitual! Nós estavamos vivendo juntos uma época louca, de grandes viagens, de transfiguração... e era isso que queríamos dividir com as pessoas. Não era só ocupar a cabeça dos outros com mais informação. Essa arte feita de repetição, mastigadinha e confortável, é que rouba da música o poder de transformar as pessoas. Mas também não nos interessa ser cult, elitizados. Nos interessa o choque, com força e tesão. Os cacos a gente junta depois, e se constrói novo.

O INI foi escalado recentemente para apresentar The Doors no Asteroid Bar, em Sorocaba, na série de shows "Banda toca Banda", agendado para o mês de Julho. Como surgiu essa idéia, e por que The Doors?

Esse é um projeto lá do Asteroid, a melhor casa de shows em Sorocaba. A escolha pode parecer estranha pois talvez a nossa música não remeta diretamente à deles, mas são uma grande influência. Admiramos a postura ousada dos caras, sempre se propondo a pirar, a quebrar as amarras.


Quase uma década passada do histórico festival Circadélica (2001), a atual cena de Sorocaba, na qual o INI tem papel de destaque, é certamente uma das que mais se desenvolve no interior paulista. Iniciativas como a recém criada Rasgada Coletiva, que engloba membros do Coletivo Rock Alive e da Guerrilha Gerador, com membros do próprio INI, são exemplos dessa geração que continua focada na produção cultural independente. Como a banda vê esse novo cenário e a atual força colaborativa na cidade? Quais os maiores desafios desse trabalho hoje em Sorocaba? E dá para adiantar alguma atividade que o coletivo vem buscando?

No Brasil todo tá rolando esse lance dos coletivos, que são na verdade uma institucionalização da camaradagem, uma organização pra algo que sempre existiu, baseado na troca de shows e informações. Isso é o suficiente? Não, mas é um passo e deve continuar sendo aplaudido e apedrejado pra que possa crescer.

Vejo que os maiores desafios da Rasgada Coletiva hoje são muito parecidos com os desafios do INI: o primeiro é dialogar com o público de forma cada vez mais expressiva, interferir mesmo na cultura através da arte (e da educação também, no caso das oficinas que o coletivo pretende realizar). O segundo é tornar possível às pessoas que estão envolvidas com este trabalho poderem pagar com ele o básico pra viver: casa, comida e cerveja.

A Rasgada hoje organiza o Guerrilha Gerador, uma festa mensal chamada “Gelatina e Iron Maiden”, produz shows de artistas de fora em algumas casas de Sorocaba e está trabalhando na elaboração de um festival cultural. A nossa perspectiva pra um futuro breve, além de lançar uma banda nacionalmente, é ter uma sede, um ponto cultural, e desenvolver o quanto antes nossas oficinas.

Falando em Guerrilha Gerador, projeto genial que vem ganhando uma repercursão cada vez maior no meio independente (o site Rock'n'Beats recentemente entrevistou membros do projeto e comentou a ação), a quantas anda o INI como combatente pela cultura independente? Depois de uma série de intervenções no interior e na capital, com uma atuação marcante na Virada Cultural paulistana no último final de semana, a Guerrilha já tem novos planos?


A Guerrilha Gerador é um movimento bastante espontâneo. Simplesmente disponibilizamos os geradores pra qualquer artista que se disponha a fazer o corre pra levar o equipamento, divulgar, se entender com a polícia (risos). Acho que o INI está se tornando símbolo deste movimento pois até agora foi a banda mais ousada, ao lado do Hierofante Púrpura, na escolha dos locais para fazer a guerrilha. (Mas o Iansã  já tá armando uma loucura ae!)

Quanto ao futuro, estamos preparando um DVD + CD split fodásso do INI e Hierofante, com nossas apresentações da guerrilha nas viradas culturais, mais um show surpresa em algum pico bem lôco. Se der certo, vai virar uma série. E a produção do Araraquara Rock entrou em contato esta semana para levar o INI pra tocar no esquema dos geradores.

A tour do "A Caixa do Macaco" também já conta uma extensa lista de shows. Como tem sido a aventura e a repercussão dos shows e do novo disco até agora, e o que aguardar das próximas datas pelo interior do estado e na região Sul?

Estamos muito felizes com a tour. Não enviamos nenhum disco para nenhum orgão de imprensa, não tem resenha do disco na internet. O INI está crescendo pelo boca-a-boca, pelos shows. Em tempos de tanta publicidade vazia, tantos cabelos e hypes, me orgulha crescer dessa forma.

Tocar por ae tem sido incrível! A experiência na Virada Cultural foi inigualável, além de que é sempre divertido conviver com as diferentes reações nos diferentes lugares. Teve lugar que a gente saiu com fama de música de maluco – como se a gente fosse um bando Hermeto Pascoal! (risos). Enquanto isso tem gente em Sorocaba que torce o nariz e diz azedo que o INI é muito pop. Eu digo o quê?


Just Fun!! com Superguidis e INI no Bar do Zé em Campinas

JUST FUN!!

Duas bandas de destaque em suas cenas locais, pela primeira vez em Campinas:

SUPERGUIDIS (Guaíba-RS): um dos principais nomes do atual indie rock nacional, na tour do aguardado terceiro disco, que vem colecionando uma série de reviews positivos país afora.


INI (Sorocaba-SP): show incendiário de uma das revelações da nova cena sorocabana, divulgando o visceral "A Caixa do Macaco", segundo album da banda.


SERVIÇO
Just Fun!! apresenta Superguidis e INI
+ DJ's Giovana M. & Bolinhas Records
Data: 26 de Maio, quarta-feira, a partir das 22h
Ingressos: R$ 7,00
Local: Bar do Zé - Av. Albino J. B. de Oliveira, 1325 - Barão Geraldo - Campinas - SP