Teenage Fanclub @ Whisky Festival 2011

"A gente fica mais velho a medida que os anos passam, mas você não muda, ou ao menos eu não noto que tenha mudado." Apesar de serem apenas os versos iniciais do primeiro single da carreira do Teenage Fanclub, talvez este seja o trecho que melhor define a relação entre o fã-clube eternamente adolescente e o amado grupo escocês. É óbvio que todos envelhecemos, mudamos tanto a forma de executar uma canção quanto no jeito com a qual ouvimos, mas a impressão deixada por Everything Flows ao vivo é de que o tempo é de fato apenas mais um coadjuvante em relação a qualquer sentimento, seja da banda há mais de duas décadas na estrada ou dos olhos marejados do hoje-já-não-tão-jovem fã.

Lá se iam 7 anos de espera pelo retorno da banda que em 2004 fez uma série de shows que ficariam eternamente guardados na memória de muitos dos que presenciaram (até os próprios membros afirmaram na época que um dos shows, o último dos 3 realizados na capital paulista, havia sido a melhor apresentação da carreira da banda). E a exemplo de quando banda visitou o país pela primeira vez, os dois shows dentro da segunda edição do Whisky Festival 2011, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, não pouparam emoção e nostalgia.

Teenage Fanclub @ The Week, SP - 11/05/2011

A curta turnê começou em plena quarta-feira no The Week, conhecido reduto da música eletrônica (e endinheirada) na capital paulista, ou seja, sofisticado demais para o público daquela noite. Porém os fãs que esgotaram rapidamente os 2 lotes de ingressos disponibilizados para a edição de São Paulo não pareciam preocupados com aspecto um tanto quanto incoerente do local, queriam apenas matar a saudade daquelas canções vindas do norte britânico.

teenage fanclub @ the week - SP

Passada meia-noite, depois de muito observar o roadie gente boa George (Borowski - para quem não conhecia, aquele mesmo que "sabe todos os acordes", imortalizado no clássico "Sultans of Swing", do Dire Straits) afinar inúmeros instrumentos, enfim os escoceses adentram o palco e começam logo com "Start Again", canção que abre Songs from Northern Britain, de 1997, com vocal dividido entre os três compositores, Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley, e o ancioso público que lotou o pavilhão do espetáculo.

teenage fanclub @ the week - SP

No princípio, a banda optou por experimentar os destaques dos dois últimos albuns (do mais recente disco Shadows, do ano passado, "Sometimes I don't believe in anything", "The Past" e "Baby Lee", que mesmo sem as cordas adicionais soa bela, e do album Man-Made, de 2005, "It's all in my mind"), fórmula que pareceu funcionar dentre os fãs mais recentes. Mas para não deixar os antigos admiradores para trás, trataram de desfilar os clássicos, a começar por "Don't Look Back", cujo refrão foi entoado por muitos. A harmonia perfeita de "About You" e os riffs da era Bandwagonesque de "Star Sign", sempre com o auxílio do quinto Teenage na guitarra adicional, David McGowan, serviram para conquistar a platéia de vez. Alguns já estariam satisfeitos se o show terminasse naquele instante mesmo.


Para acentuar o romantismo, especialidade do quinteto, mais uma sequência matadora: Norman emendou "I Don't Want Control of You", que continuou com a declaração de amor de Gerard em "I Need Direction", seguida do pop infectuoso de "Mellow Doubt", "Your Love is the Place Where I Come From", atendendo a pedidos da platéia, e "Ain't That Enough". A calmaria de "When I Still Have Thee", mais uma do Shadows, apenas preparou o público para a dupla fatal que fecharia a primeira parte do show: a ensolarada "Sparky's Dream" e as distorções de "The Concept", duas obras-primas da banda, ambas cantadas em uníssono. A aquela altura, parecia impossível sair ileso da história cantada por Norman, de uma simples garota que curtia Status Quo e usava jeans onde quer que ela fosse. Ele fala que não queria machucá-la, mas como se proteger daqueles riffs cortantes misturados aos lamentos juvenis que se faziam melodia?

teenage fanclub @ the week - SP

Para os que sobreviveram ao primeiro teste e que conseguiram aguardar mais alguns minutos até o bis, tiveram o alívio com "Sweet Days Waiting", seguida de "My Uptight Life". Porém poucos esperavam o final arrebatador que vinha pela frente: duas pérolas do Grand Prix, de 1995, "Neil Jung" e "Discolite", e o encerramento com as guitarras dilacerantes de "Everything Flows", que mesmo com um pequeno deslize de Norman na letra, era o golpe que faltava para derramar as lágrimas de quem havia resistido até aquele momento.

Setlist - São Paulo
  1. Start Again
  2. Sometimes I Don't Need To Believe In Anything
  3. The Past
  4. It's All In My Mind
  5. Don't Look Back
  6. Baby Lee
  7. About You
  8. Star Sign
  9. I Don't Want Control Of You
  10. I Need Direction
  11. Mellow Doubt
  12. Your Love Is The Place Where I Come From
  13. Ain't That Enough
  14. When I Still Have Thee
  15. Sparky's Dream
  16. The Concept
Bis
  1. Sweet Days Waiting
  2. My Uptight Life
  3. Neil Jung
  4. Discolite
  5. Everything Flows

Teenage Fanclub @ Circo Voador, RJ - 12/05/2011

Logo no dia seguinte era vez do Rio de Janeiro receber a banda pela primeira vez. Desta vez o local parecia bem mais apropriado, no Circo Voador, renomado espaço carioca, que já recebeu inúmeras atrações de peso, com a promessa de um melhor aparelhamento (o show em SP de fato deixou a desejar com alguns problemas no som em determinados momentos). Entretanto, diferente da edição paulista, os ingressos para o show do Rio não foram esgotados, mas mesmo assim o espaço recebeu um bom público.

Teenage Fanclub @ Circo Voador, Rio de Janeiro

Por volta do mesmo horário do show de São Paulo, a banda surge com um set inicialmente semelhante ao da noite anterior até que na décima-primeira música, entre os clássicos, surgem "What You Do To Me" e "Alcoholiday", duas das favoritas dos amantes da fase mais guitarreira do grupo. Essa foi a principal diferença dos dois shows: enquanto em São Paulo, a banda privilegiou os fãs do Grand Prix e posteriores, no Rio foram escolhidas mais músicas dos primeiros albuns, com destaque para o Bandwagonesque, de 1991. Mas isso não mudou a reação do público, que mais uma vez fez companhia no vocal nas composições mais recentes e especialmente nos clássicos. E foi abatido com a dobradinha contrastante de "Sparky's Dream" e "The Concept" novamente finalizando a primeira parte da apresentação.


O bis no Rio seguiu a mesma estratégia da versão paulistana, com uma crescente de emoções. Começou com a psicodélia tranquila de Raymond em "Today Never Ends", a cover de Bevis Frond, "He'd Be a Diamond", e o punk pop de "Radio", outra favorita das canções antigas, do disco Thirteen, de 1993 - todas canções inéditas no show de quarta. Para encerrar, mais uma vez é escolhida a perfeição melancólica de "Everything Flows", trilha sonora ideal para por o ponto final em mais uma comovente apresentação.

Setlist - Rio de Janeiro
  1. Start Again
  2. Sometimes I Don't Need To Believe In Anything
  3. The Past
  4. It's All In My Mind
  5. Don't Look Back
  6. Baby Lee
  7. About You
  8. Star Sign
  9. I Don't Want Control Of You
  10. I Need Direction
  11. What You Do To Me
  12. Alcoholiday
  13. Your Love Is The Place Where I Come From
  14. Ain't That Enough
  15. When I Still Have Thee
  16. Sparky's Dream
  17. The Concept
Bis
  1. Today Never Ends
  2. He'd Be A Diamond (The Bevis Frond cover)
  3. Radio
  4. Everything Flows

Se não tão emocionante quanto a primeira vinda do grupo ao país, essa nova passagem sem certamente ficará guardada na lembrança de muitos. Para os amantes do power pop de melodia primorosa e dos versos que contrastam delicadeza com um forte apelo sentimental, é praticamente impossível sair indiferente de uma apresentação dos escoceses.
A harmonia única da banda em cima do palco, principalmente entre os três compositores/vocalistas, aliada a simplicidade das melodias talvez sejam o segredo de tamanha perfeição ao vivo. Junte a isso uma listagem de músicas  que cobre praticamente toda a carreira e então temos, sem exageros, um dos melhores shows de uma das mais importantes instituições do rock alternativo dos últimos vinte anos. Vinte anos que podem ter alterado a voz, as letras, os instrumentos e a forma de tocá-los, mas nem por isso mudaram a fidelidade dos membros do fã-clube e seus sentimentos pela banda.


  • Mais fotos da apresentação em São Paulo no flickr de Alessandra Luvisotto.
  • E mais algumas fotos de São Paulo e Rio de Janeiro aqui.

The Transmission + S.O.M.A. em Campinas



The Transmission (Porto Alegre-RS): em sua primeira turne por São Paulo, a banda vem divulgar seu segundo EP, Endless, lançado em 2010. Com seu som destacando guitarras e muita distorção em melodias que misturam delicadeza e violência, vocais alternados entre o masculino e feminino e letras em inglês, Transmission é aposta certa para os fãs do dream pop e indie rock noventista.


S.O.M.A. (Campinas-SP): reverenciando os maiores nomes do post-rock como Godspeed You! Black Emperor, Explosions in the Sky, Mono e Mogwai, o S.O.M.A. apresenta um repertório instrumental que vai desde melodias mais calmas a composições de muito peso, a exemplo de muitas das suas principais influências. Com 3 EPs já lançados pelo selo virtual Sinewave, a banda tem previsão de lançar um novo disco ainda em 2011.

Serviço:
Transmission + S.O.M.A
Data: 05 de Maio (quinta-feira), a partir das 22h
Ingressos: R$ 7,00
Local: Bar do Zé - Av. Albino J. B. de Oliveira, 1325 - Barão Geraldo - Campinas - SP