Extravaganza #1 - Festival Shoegaze @ Asteroid, 19/12/09

Desde que o Wry retornara da Inglaterra para sua terra natal, a cidade de Sorocaba no interior sul paulista, havia uma certa expectativa sobre o futuro da banda: volta definitiva ou apenas em tempo de rever amigos, familiares e algumas turnês? Um grave problema que poderia afetar essa decisão era a falta de um local apropriado para bandas da cena alternativa/independente na região sorocabana. Com a idéia de inovar e revolucionar esse cenário, eis que Mario Bross e Cia. criam o Asteroid Bar. Inaugurado há apenas uma semana (já com shows dos badalados Copacabana Club e Hierofante Púrpura, nos dias 11 e 12 de dezembro, respectivamente), a casa promete ser um lugar ímpar na região, incluindo balada, pista de dança e palco para shows, com uma grade que ainda conta com noites temáticas, espetáculos de stand up comedy e festivais de música.O primeiro desses festivais aconteceu neste último final de semana e, como não poderia ser diferente, em se tratando de Wry, focado principalmente nos atuais shoegaze, experimental e post-rock nacionais, conjunto esse que aparece cada vez mais no país, além de ser muito bem representado por um número crescente de bandas. Com o nome de Extravaganza #1 (nome temático que parece será usado pela casa para outros festivais futuros), se dividiu em dois dias, sábado (centrado no shoegaze) e domingo (com o pé principalmente no post-rock).

Festival Shoegaze (Dia 1): Wry + The Soundscapes + Inverness + Pale Sunday + Duelectrum

A primeira noite começou com o som arrebatador do trio paulistano do Duelectrum. Levando a sério a fórmula barulhenta de Shields e Cia., a banda não poupou seu noise pop de guitarradas sobrepondo os vocais. Em certos momentos chega a impressionar o volume de sons para uma banda de apenas três integrantes. Muito bom show para os infelizmente poucos presentes (em razão do horário, ainda cedo para o costume "baladeiro").


Para aliviar a atmosfera, o twee pop do Pale Sunday, da distante Jardinópolis (com muito orgulho por parte da banda, diga-se de passagem), era a próxima a se apresentar. Com um pé fincado no The Jesus and Mary Chain de Darklands e o outro como fiel descendente do cast da Sarah Records, o grupo mostrou que sabe a receita do indiepop perfeito. No final do set, ainda homenagearam a seminal The House of Love com "Man to Child".


Na sequência, era a vez da paulistana Inverness. Animada com a oportunidade de uma grande turnê pelos Estados Unidos em breve, a banda realizou um de seus melhores shows, inclusive nas palavras dos próprios integrantes. Um cruzamento de um pop psicodélico a lá Animal Collective com as viagens e drones de Jason Pierce, recheados de muitas texturas e samplers, tomou conta do palco do Asteroid naquele que foi um dos melhores momentos da noite.


O show seguinte era talvez o momento mais aguardado da noite, The Soundscapes. Com o debut "Freestyle Family" lançado nos Estados Unidos no final de 2008, a dupla de irmãos brasileiros radicados em Nova Iorque encontra-se de passagem pelo Brasil, aproveitando para divulgar a banda, ainda pouco conhecida eu seu pais de origem, através de shows.


No palco, Rodrigo e Raphael Carvalho demonstram uma performance impressionante: um duo de guitarra e bateria de ritmo incessante de pura energia, um som direto porém com canções de uma sonoridade tão completa onde incrivelmente não se sente a falta de nenhum outro instrumento, mixando as mais varias referências da banda, do shoegaze e post-punk britânicos ao post-hardcore e indie rock norte-americanos. Destaque para as belas melodias e vocais de "(We're All Made of) Star Stuff" e "Son of the Future", a sonic-youthiana "Lion's Dream" e o compasso da destruidora "She's Gone". Sorte daqueles que puderam acompanhar a apresentação da banda, num embate minimalista de guitarra e bateria, no melhor show da noite.




Encerrando a primeira noite de shows, era a vez dos anfitriões do Wry estrearem na sua mais nova casa. A essa altura da noite com o local lotado, cercados por uma expectativa que sempre os acompanha nas apresentações na sua cidade natal, a banda começou com a poderosa "Sister" após um drone caótico de vários minutos, como que abençoando o novo lar. A empolgação era flagrante na expressão de cada um dos membros da banda, especialmente Mario.


Com um setlist focado em seu album mais recente, She Science, com músicas em inglês e português (ou até mesmo mesclando as duas linguas em uma mesma canção, como no caso de "Disorder", outro ponto alto do show com seu caos sonoro), a banda não deixou de fora outras do ótimo EP Whales and Sharks ("Different From Me" e a onírica "Bitter Breakfast", além da já mencionada "Sister") e "Nossa História Começa Agora", faixa em que Luciano empunha um arco para tocar sua guitarra. Tudo isso acompanhado por um formidável sistema de iluminação (aliás, fato comum a todos os shows da noite), o que tornava o ambiente ainda mais propício para as lindas melodias. Mais um show cheio de energia, como não poderia deixar de ser, fechando a noite e o primeiro show da banda em seu QG com o pé direito.


Vale lembrar que, além da série de shows de altíssima qualidade, a discotecagem da casa também não ficou para trás: ponto para os residentes Talitha e Mario que escolheram várias pérolas do pós-punk/shoegaze/indie rock/alternativo de hoje e de ontem.

  • Mais fotos dos shows da noite no flickr de Alessandra Luvisotto
  • Videos dos shows no canal do youtube, por jr.
texto: jr.