Grito Rock Sorocaba (2o. Dia) @ 13/02/2010

Para aqueles que não simpatizam com a festa, Carnaval acaba sendo normalmente um poço de tédio. Este ano pelo menos uma alternativa apareceu para aqueles que preferem guitarras a pandeiros e atabaques. Realizado em parceria com a ABRAFIN e a rede Fora de Eixo, teve início nesse final de semana em várias cidades país afora o Grito Rock, festival que reune aproximadamente 500 nomes do cenário independente para tocar em mais de 70 cidades do país e outras 4 da América do Sul, figurando como o maior festival integrado do continente sul-americano. Em Sorocaba, com realização do Coletivo Cultural Rock Alive, o festival sediado na bela Usina Cultural a margem do Rio Sorocaba, foi dividido em 2 dias (12 e 13 de fevereiro) com entrada franca, e nós fomos até lá curtir a quente noite de sábado de Carnaval.


Mesmo um pouco atrasados com relação ao horário anunciado na programação, chegamos a tempo de ver a primeira banda subir ao palco no enorme galpão antigo que é a Usina Cultural. Optando por cantar em português, os quatro garotos do Teatro Asfalto, banda formada em 2006 na cidade de Vinhedo-SP, misturam diversas influências onde predomina um som que remete ao grunge, com tendência para o metal em alguns momentos mais pesados.


Enquanto isso, do lado de fora do casarão, um conjunto de bateria, microfones, pedais, amplificadores e caixas de som instalados no próprio gramado e calçada próxima a uma das paredes da Usina recebiam os últimos ajustes. Era o Projeto Gerador, evento paralelo ao Grito Rock, que apresentava a alternativa criada a partir das próprias bandas (sem qualquer auxílio da iniciativa pública e privada) de utilizar geradores movidos a gasolina como provedores de eletricidade para todos equipamentos (com exceção da iluminação, obtida através de um dos próprios refletores do local). A idéia é poder tocar em qualquer lugar, de praças até a própria calçada, sem depender do fornecimento de energia.


Quatro bandas se utilizariam do esquema durante o festival, sendo duas em cada dia, e o primeiro grupo do sábado seria o sorocabano Iansã. Com uma sonoridade crua que lembra em parte o hardcore com toques experimentais da costa oeste americana (nomes como Saccharine Trust e Black Flag) e letras impactantes ou até mesmo obscenas em alguns momentos, a banda formada recentemente (sua primeira aparição ocorreu no último dia 31) causou um certo estranhamento junto ao público. Ainda com algumas arestas a acertar, o destaque ficou por conta da originalidade instrumental das composições.


De volta ao interior da Usina, a próxima banda a se apresentar eram os até então desconhecidos para mim, The Almighty Devildogs. Diretamente de Bauru-SP, com curiosamente com dois integrantes trajando indumentárias pretas com logos do AC/DC, surpreenderam ao mandar uma competente surf music, com pitadas de punk mas ainda com aquele pé se aproximando do hard rock. Com homenagens de Zé do Caixão a Ventures, fizeram um show bem animado, que agradou o público logo de início, com merecidos aplausos para quem nem precisou apelar para "Misirlou".


A segunda e última banda do Projeto Gerador no lado de fora do prédio, já com um público visivelmente bem maior que no show anterior, era o Vincebuz, da capital paulista. Logo de cara, a bateria adicional montada na calçada ao lado da percussão utilizada pelo grupo anterior já advertia que aquela não seria uma apresentação convencional.


O noise experimental entupido de fuzz, de onde nem o vocal escapava ileso, reproduzia qualquer coisa entre um cáustico sludge metal e um épico krautrock em seus momentos mais tenebrosos. Problemas em estabilizadores e pedais a parte, a performance viceral dos quatro vincebuz convenceu boa parte daqueles que assistiram de perto os estranhos ecos distorcidos na iluminada noite sorocabana.



Continuando na linha mais pesada, o hardcore do anfitriões do Esbórnia era a próxima atração da noite. Com a ajuda de uma platéia recheada de amigos, a banda conseguiu a atenção de muitos, principalmente com a boa presença de palco do vocalista e as versões para músicas de Korn e Sepultura.


A próxima banda marcava o primeira "volta" da noite: os campineiros do Del-O-Max retornavam de um coma após vários meses sem nenhuma aparição. Para felicidade daqueles que curtem o bom e velho rock sujo garageiro, a batalha de baixos contra guitarra apoiada na rápida batida continua infalível.


Os traços do punk rock cru e a influência mod obviamente também não foram deixados para trás, naquele que figurou como um dos melhores momentos da noite. Muito bom vê-los de volta em ótima forma (ainda que com parte da banda um pouco, huh, high.)


Na sequência, era a vez da Circo Motel, de São Paulo, mostrar seu elogiado show no palco do Grito Rock. A banda que além de 2 guitarras, baixo e bateria, era também acompanhada por um tecladista, chegou cheia de estilo, com uma estética setentista que anunciava o tom da apresentação a seguir. Porém, o hard rock com toques psicodélico do grupo paulistano pareceu não conseguir animar o público que já demonstrava sinais de cansaço, com boa parte assistindo o show sentado na área em frente ao palco. Apesar da boa presença de palco e alguns fãs que não haviam sucumbido ao desânimo, a banda pecava por um repertório pouco original, tanto que só conseguiu emplacar após se utilizar de covers de Mutantes e Led Zeppelin.


Eis que após longa espera, chegavamos a um dos momentos mais aguardados da noite: um outra volta, dessa vez, da sorocabana Volpina. Fora de atividade desde 2008 (a última apresentação havia sido justamente na primeira edição do Grito Rock daquele ano), todos aguardavam com certa ansiedade o retorno de uma das bandas de maior destaque na cena indie rock de Sorocaba nos anos 00, mesmo sem lançar um único LP.


Se antes mesmo de subir ao palco, o show da volta já era dado como jogo ganho junto ao público, a grande apresentação da banda recebeu tons de espetáculo. Galera entoando as letras das canções do primeiro EP em uníssono e até mesmo subindo ao palco para acompanhar os vocalistas - assim foi o retorno do Volpina, talvez o clímax do segundo dia de festival.


Como que para amenizar os ânimos daqueles que não deixaram a Usina após o show dos sorocabanos, o Aeromoças e Tenistas Russas subiam ao palco para fazer o penúltimo show, apresentando seu instrumental progressivo com teclado e saxofone, diretamente de São Carlos-SP. Bem diferente do que o nome faz lembrar, o ATR foi formado em 2007 a partir da amizade de quatro estudantes do curso de Imagem e Som da UFSCar. Experimentação de qualidade, mas talvez não muito adequado para aquela altura da madugada.


Já passavam das quatro da manhã quando a Biggs começava o show que encerraria o Grito Rock 2010. Mesmo tarde e com um público bem menor e já sonolento, o power trio demonstrou total disposição e fez uma performance cheia de energia. A começar pelo baterista Brown, que quase encerra o show mais cedo detonando a caixa de sua bateria. E como se não bastasse, mesmo após tendo substituido a peça destruida por uma caixa emprestada, ele ainda continuava a triturar suas baquetas, que mais pareciam brinquedos sem resistência alguma em suas mãos.



Mas ânimo da banda não se limitava ao baterista: Flávia e Mayra também não deixaram por menos e fizeram mais set de punk rock sujo de ótima qualidade. Sorte daqueles que aguentaram até o final e assistiram a um belo show da Biggs.


Como saldo final, a julgar pela segunda noite de shows, a edição sorocabana do Grito Rock 2010 foi um sucesso. Apesar de algumas falhas que podem ser facilmente corrigidos em próximas edições, como a sinalização deficiente (placas indicativas para o local do evento; nenhum banner ou cartaz com a programação de shows), o fim da água e refrigerante bem cedo e a variedade bastante restrita de opções para alimentação, o festival em si rolou sem problemas. O line up bacana que mesclava bandas de diversas cidades do estado (além dos paranaenses do Nevilton, que tocaram no primeiro dia de festival) com grupos da cidade, possibilitando a troca de idéias e criação de novos vínculos, válido principalmente para as bandas novas, é sempre uma característica muito positiva num festival desse tipo. O fato de se concretizar como um evento gratuito também foi outro ponto de fundamental importância.


Com mais de 1000 pessoas nos dois dias de evento, deu pra conferir que, apesar da cultura "metaleira" do classic rock radiofônico ainda reinar, Sorocaba é um local com potencial e público para a cultura alternativa (o cenário de bandas atuais, assim como o próprio sucesso do Asteroid Bar, vem mostrando isso), e o Grito Rock foi mais uma ótima oportunidade de levar o rock autoral independente até uma platéia acostumada ao cover.

  • Mais fotos no flickr, por Alessandra Luvisotto.
  • Mais videos no canal do youtube, por jr.

4 comentários:

  1. Muito bom o seu blog, adorei as fotos! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo blog. Ótimas fotos e vídeos e texto completo sem ser chato.

    Só uma coisinha que não tinha como vcs adivinharem: o nome da nossa música que tá lá no youtube é Prelúdio de um Parto Prematuro.

    Muito Obrigado pelas fotos pelo vídeo e pela resenha sincera.

    P.S.: Vcs são de onde?

    ResponderExcluir
  3. Hey Marco! Valeu pelas palavras e muito obrigado pelo toque no título da música, já corrigi no youtube.

    A gente é mezzo Campinas mezzo Tietê, mas vive rodando pela capital e outras cidades aqui por perto atrás de música bacana (é verdade, tá faltando explicar isso melhor em algum aqui no blog)

    Abraço,
    jr.

    ResponderExcluir
  4. Porra galera, ficamos muito contentes com o trampo que vocês fizeram la no evento. est~çao de Parabéns mesmo.

    peço que add nos no msn. msn@rockalive.com.br

    Simplesmente Fudido!!!

    ResponderExcluir